A recente imposição de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros pelos EUA é o tipo de evento que faz qualquer analista de sistemas parar e coçar a cabeça. Em meus 13 anos trabalhando com automação e integração, aprendi uma regra de ouro: quando um sistema se comporta de maneira ilógica, é porque os parâmetros de entrada ou a lógica interna foram deliberadamente manipulados. A justificativa oficial, um suposto déficit comercial americano com o Brasil, é um dado factualmente incorreto. Um erro grosseiro. Portanto, a conclusão é inevitável. Isso não é política comercial. É um ataque de força bruta com fins políticos. Um bug proposital.
A análise fria dos dados, algo que valorizo profundamente na minha área, desmonta a narrativa oficial em segundos. Os Estados Unidos têm um superávit comercial consistente com o Brasil há mais de uma década. Fim da discussão econômica. O que estamos vendo, então, não é uma correção de rota, mas uma coerção que usa a economia como arma. É aqui que a minha experiência com sistemas complexos me ajuda a traçar uma analogia. Pense na arquitetura do comércio global como um grande sistema distribuído, com protocolos e APIs estabelecidos (as regras da OMC, acordos bilaterais, etc.). O que a administração Trump fez foi ignorar os protocolos padrão e executar um comando direto e agressivo, uma espécie de “kill switch” tarifário, direcionado a um nó específico da rede: o Brasil.
A verdadeira lógica por trás desse comando não está na documentação pública (os discursos sobre economia), mas no código-fonte dos interesses geopolíticos. A pressão está ligada a questões internas do Brasil — os processos contra o ex-presidente e as decisões do STF sobre Big Techs — e, claro, ao alinhamento brasileiro com o BRICS. Lembro de um projeto de integração que gerenciei entre dois sistemas legados de grandes corporações. A documentação oficial dizia uma coisa, mas na prática, o sistema se comportava de outra completamente diferente. Tive que ignorar o manual e analisar o comportamento real pra entender a lógica por trás das falhas. É exatamente o que acontece aqui. A “documentação” fala em déficit, mas o “código” está punindo a soberania e a política externa.
O estrago é calculado e mira exatamente onde dói mais: nos setores de alto valor agregado. Embraer, aço, manufaturados. Não é um tiro de canhão a esmo. É um ataque cirúrgico para frear a complexidade da nossa economia e nos empurrar de volta para a dependência de commodities. Para uma empresa como a Embraer, cujo mercado principal são as companhias aéreas regionais americanas, uma tarifa dessas é quase existencial. Já vi implementações de software malfeitas quebrarem departamentos inteiros; aqui, a escala é um país.
No fim das contas, o Brasil fica numa sinuca de bico estratégica. A via multilateral, a OMC, está com o “servidor offline”, paralisada pelos próprios EUA. Resta a retaliação bilateral, a recém-aprovada Lei da Reciprocidade, que é como responder a um ataque cibernético com outro, correndo o risco de uma escalada que derrube a rede inteira. A crise expõe nossa fragilidade e a necessidade urgente de diversificar não só mercados, mas também nossas estratégias de defesa. O comércio global deixou de ser um tabuleiro de xadrez com regras claras. Agora, é um jogo onde um dos jogadores pode, a qualquer momento, virar a mesa e reescrever o código em tempo real. Adaptar-se a isso é o nosso maior desafio.